
(A argola de ferro, a punição de escravos fugitivos. De Debret).
Acabo de ler um livro muito bom. A vida dos escravos no Rio de Janeiro – 1808-1850, da norte-americana Mary C. Karasch.
Karasch descreve, por exemplo, como funcionava o mercado do Valongo. Já havia lido referências antes e aprofundei minha curiosidade sobre este local. Um mapa do século XIX localiza o Valongo entre os morros da Conceição e do Livramento, perto do cais do porto no Rio. Por lá passaram 1 milhão de africanos na primeira metade do XIX.
Peguei o mapa, o carro, e fui ver se sobrara algo, se havia alguma referência ao mercado. No local apontado descobri uma “ladeira do Valongo”, que dá acesso ao Morro da Conceição – onde fica uma favela e no topo um Observatório Astronômico e uma unidade do Exército. Do lado oposto, há a ladeira do Livramento. O mercado, na descrição de Karasch, ficava exatamente neste vale.
Não encontrei nesta primeira visita nenhuma referência “oficial”. Há, sim, numa praça próxima, uma placa. Nela se lê que o “cais do Valongo” foi revitalizado em 1800 e lá vai bolinha, para a recepção de uma princesa que se casaria com D. Pedro II.
E é tudo. Sobre os 1 milhão de escravos que passaram por ali, nada. Voltei do passeio achando que o local mereceria um museu. Uma grande exposição apontando de onde vieram os escravos que por ali passaram (Angola, Congo, Moçambique), as diversas culturas africanas, as diferentes línguas, religiões, as roupas, as comidas e tudo o mais.